O controverso presidente da Síria e ex-membro da Al-Qaeda, Ahmed Hussein al-Shar’a, mais conhecido pelo nome de guerra Abu Mohammad al-Julani, está em Belém do Pará participando da Cúpula do Clima de Belém (COP30). Sua presença mobilizou um esquema de segurança sem precedentes na capital paraense.
Por onde passa, al-Julani é acompanhado por um seleto grupo de seguranças fortemente armados e por agentes internacionais destacados especialmente para garantir sua integridade física.
De Emir Jihadista a Presidente da Síria
Nascido em Riad, Arábia Saudita, em 29 de outubro de 1982, filho de exilados sírios, Ahmed Hussein al-Shar’a se tornou uma das figuras mais polêmicas do Oriente Médio. Em janeiro de 2025, foi nomeado o 20º presidente da Síria, após anos de guerra civil e disputas entre facções rebeldes e o regime de Bashar al-Assad.
Antes de assumir o governo, ele liderou o Tahrir al-Sham, grupo islâmico que dominou parte do território sírio entre 2017 e 2025. Sua trajetória é marcada por profundas transformações políticas e ideológicas. Al-Julani iniciou sua militância na Al-Qaeda no Iraque (2003–2004) e chegou a integrar o Estado Islâmico (EIIL) em 2006. Posteriormente, foi enviado pelo então líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, para formar a Frente Al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda.
A ruptura com al-Baghdadi, em 2013, levou à cisão entre o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, acendendo uma guerra dentro do próprio movimento jihadista. Em 2016, al-Julani anunciou publicamente o rompimento com a Al-Qaeda, buscando legitimidade internacional e adotando uma postura de governo local, com foco na reconstrução e administração civil de regiões sob seu controle.
Da Lista de Terroristas ao Palco Diplomático
Em 2013, o Departamento de Estado dos Estados Unidos classificou Ahmed al-Shar’a como “Terrorista Global Especialmente Designado” e chegou a oferecer US$ 10 milhões por informações que levassem à sua captura.
No entanto, após sua ascensão política e o colapso do regime de Assad, al-Shar’a passou a adotar uma postura diplomática mais moderada. Ele afirmou não ter interesse em guerra contra o Ocidente e prometeu proteger minorias religiosas na Síria.
Sob sua administração, a província de Idlib, antes um dos locais mais pobres do país, passou a registrar avanços econômicos e urbanos significativos — com novos centros comerciais, universidades e fornecimento regular de energia elétrica. Apesar disso, persistem denúncias de abusos contra minorias drusas e cristãs, além de relatos de repressão violenta a protestos populares, como os registrados em março de 2024.
A Tomada de Poder e as Controvérsias
Desde que assumiu o poder, em 8 de dezembro de 2024, o governo de al-Shar’a é acusado por organizações de direitos humanos de ter causado a morte de cerca de 10 mil pessoas até agosto de 2025, sendo 7.500 civis, entre eles 396 crianças e 541 mulheres.
Os massacres mais brutais ocorreram contra populações alauítas na costa síria e drusas na província de Sueida, em 2025.
Mesmo sob críticas, al-Julani tenta consolidar sua imagem como um líder reformista e moderado. Em maio de 2025, ele se encontrou com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante reunião do Conselho de Cooperação do Golfo, na Arábia Saudita — o primeiro contato direto entre líderes sírios e norte-americanos desde o ano 2000.
Raízes e Formação
De origem camponesa, Ahmed al-Shar’a é filho de Hussein al-Shar’a, ex-ativista nasserista que foi perseguido e preso várias vezes na Síria antes de se exilar na Arábia Saudita. Seu pai tornou-se engenheiro de petróleo e autor de obras sobre desenvolvimento econômico e recursos naturais.
A família retornou à Síria em 1989 e se estabeleceu em Mezzeh, bairro nobre de Damasco, onde Ahmed estudou Mídia e Comunicação antes de se engajar no jihadismo durante a invasão do Iraque em 2003.
Presença em Belém
A presença do líder sírio em Belém para a Cúpula do Clima de Belém ocorre sob rígido controle das forças de segurança brasileiras e internacionais. O Itamaraty e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) coordenam a logística de proteção, considerando o histórico de Al-Julani e o contexto político delicado de seu governo.
Sua participação no evento global desperta curiosidade, apreensão e polêmica, especialmente por seu passado ligado a grupos extremistas e seu esforço recente de se apresentar como um chefe de Estado legítimo e reformista.
Texto:
Carlos Magno
Jornalista – DRT/PA 2627